Modos gregos, eclesiásticos e medievais - noções básicas.

Generalidades.

Os modos são outro tópico difícil de abordar, posto que há muitas controvérsias e modificações substanciais ao longo da História da Música. Sem pretender esgotar nem aprofundar o assunto, que é objeto especializado de estudo da Musicologia Histórica, busca-se aqui apresentar apenas algumas informações básicas com o intuito de clarificar um pouco o seu estudo e mostrar a origem de alguns termos técnicos ainda hoje usados na Música. De início é bom distinguir os modos gregos dos modos eclesiásticos e dos modos medievais. É importante também não confundí-los com seu uso em música do período impressionista (que em alguns casos faz uso de modos, porém em contextos harmônicos e melódicos distintos, a ponto de se poder chamá-la "neomodal"), bem como em alguns gêneros de Jazz e mesmo em músicas de várias etnias ao redor do mundo.

Modos gregos.

A teoria da Música grega é bastante complexa e especializada. De forma bem simplificada, os modos gregos eram formados por tetracordes descendentes com a posição do semitom variável e cada modo com três variantes chamadas de genera (gêneros), quais sejam: diatônico, cromático e enarmônico. O tetracorde Dório tem o semitom na base do tetracorde, o Frígio no meio e o Lídio no topo, assim, por exemplo: Dório: Mi Ré Dó Si (ou Lá Sol Fá Mi), Frígio: Ré Dó Si Lá (ou Sol Fá Mi Ré) e Lídio: Dó Si Lá Sol (ou Fá Mi Ré Dó).

Modos gregos e a posição do semitom nos tetracordes.

Quanto aos gêneros, eram obtidos pela variação de semitons das duas notas internas do tetracorde, permanecendo imóveis a primeira e a quarta. Assim, o modo Dório, por exemplo, podia apresentar-se em três gêneros: Mi, Ré, Dó, Si (gênero diatônico: duas segundas maiores e um semitom), Mi, Dó sustenido, Dó (natural), Si (gênero cromático: uma terça menor e duas segundas menores) e Mi, Dó, Dó bemol), Si (gênero enarmônico: uma terça maior e dois quartos de tom). O Dó bemol é um quarto de tom (diesis) entre o Dó e o Si, diferentemente de hoje em dia onde, no sistema de temperamento igual (que divide a oitava em 12 partes iguais), o Dó bemol soa igual ao Si.

Modos gregos e os três gêneros.


Modos eclesiásticos.

Os oito modos eclesiásticos (oktoechos), são a base do repertório do canto Gregoriano (ou cantochão) e foram catalogados pelo Papa Gregório (590-604), conforme utilizados nos Sécs. VI-VII, requerem terminologia especial para sua compreensão. Ao passo que o modo Dório grego começa com a nota Mi e seus tetracordes são descendentes, o modo eclesiásticos correspondente ao Dório começa em Ré e são ascendentes. Os modos eclesiáticos são denominados em latim de: Protus (o primeiro), Deuterus (o segundo), Tritus (o terceiro) e Tetrardus (o quarto). Os modos por sua vez se dividem em autênticos e plagais. Os modos plagais estão sempre a um intervalo de 4a. justa abaixo dos autênticos correspondentes.

Para saber qual modo está sendo usado é necessário identificar a gama (extensão da escala), a nota dominante (chamada de tuba) e a nota final. (A nota final está colorida de vermelho assim como a dominante e esta está sempre indicada por uma seta nos exemplos.)

  1. Nos modos autênticos, a nota dominante está sempre uma 5a. acima da final, exceto se for Si, sendo então substituída por Dó; a nota final é a própria tônica;
  2. Nos modos plagais a dominante está uma 3a. abaixo da dominante do modo autêntico correspondente, aqui também se for Si, será substituída por Dó; a nota final é a tônica do modo autêntico correspondente.
Modos eclesiásticos.


Modos medievais.

A partir dos Séculos IX e X os modos eclesiásticos foram renomeados e posteriormente Glareanus no Dodecachordon acrescenta mais quatro modos (1547, séc. XVI). Teoricamente havia mais um modo chamado Lócrio (de Si a Si) mas nunca foi usado na música da Idade Média. O Quadro a seguir mostra as características dos modos comentadas anteriormente.

No.Séc. VI-VIISéc. IX-XSéc. XVIGamaFinalDominante
IProtus autênticoDórioRé - Ré
IIProtus plagalHipodórioLá - Lá
IIIDeuterus autênticoFrígioMi - MiMi(Si) Dó
IVDeuterus plagalHipofrígioSi - SiMi
VTritus autênticoLídioFá - Fá
VITritus plagalHipolídioDó - Dó
VIITetrardus autênticoMixolídioSol - SolSol
VIIITetrardus plagalHipomixolídioRé - RéSol(Si) Dó
IXEólioLá - LáMi
XHipoeólioMi - Mi
XIJônioDó - DóSol
XIIHipojônioSol - SolMi
LócrioSi - Si

Genericamente, já que a primeira terça a partir da tônica define se o modo de uma escala é maior ou menor, pode-se classificá-los em modos maiores e menores.

MaioresMenores
Jônio (maior)Eólio (menor natural)
Mixolídio (maior, sétimo grau menor)Dório (menor natural, sexto grau elevado)
Lídio (maior, quarto grau aumentado)Frígio (menor natural, segundo grau abaixado)
Lócrio (menor natural, segundo e quinto graus abaixados)

Com exceção do primeiro e do quinto graus (tônica e dominante), cada modo apresenta modificações nos demais graus. A Teoria Pós-tonal tem estudado outras propriedades dos modos em contextos mais atuais, mas isso é assunto para outro Curso.

Atenção: para efeito de estudos de Contraponto, a quinta dos modos medieveis é sempre uma quinta acima da tônica. Mesmo que seja Si, este não é substituído por Dó.


Fim dos Modos.

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