5º Princípio: Semelhança
Este preceito define que eventos semelhantes por cor, odor, peso, intensidade, tamanho e forma se agruparão entre si. Em Escória Rebelde!, pequena peça para octeto de metais, percussão e orquestra de cordas, restou feita opção pela demonstração desse princípio valendo-se das relações existentes entre determinados planos tímbricos. As cordas constituem o acompanhamento que é realizado por meio de um ostinato (comp. 8 em diante). Apesar da sensação de movimento, ocasionada pelo uso de arpejos em andamento allegro, a linearidade do tratamento aplicado à figuração dessa seção atribui-lhe um caráter estático. Pode-se dizer que a seção das cordas apresenta semelhança, porque existem similaridades no timbre e no comportamento destes instrumentos, que permitem seu agrupamento formando um plano. Note-se que não há pausas nas linhas tocadas por estes instrumentos, à exceção do violino I e do contrabaixo, que apresentam-nas, o que acentua o caráter percussivo do grupo. De forma gradual, cria-se um acompanhamento bastante movimentado! Após quatro compassos, surge o elemento de destaque, que é o tema executado pelos metais. O timbre dessa seção, por si só, já constitui um elemento que se diferencia do plano gerado pelas cordas. Além disso, estes instrumentos tocam uma melodia que tem um contorno variado e que segue rumo a uma meta (comp. 12-24). Outro diferencial aponta para o fato de que a melodia executada é entrecortada por pausas, o que atribui contraste se comparado ao plano contínuo gerado pelas cordas e percussão. Pode-se dizer que existe semelhança entre os instrumentos que compõem a família dos metais, porque esses instrumentos apresentam comportamento análogo. Através deste experimento, pode-se perceber que a distinção do timbre (metais X cordas) é determinante para a definição e organização dos planos sonoros como unidades. Cada grupo relaciona-se entre si e com os outros, o que leva à formação de texturas, que são instantaneamente segregadas e reagregadas pelo cérebro humano. Este processo exemplifica a teoria que o psicólogo austríaco Christian von Ehrenfels (1859-1932) lançou, em 1890, e que viria mais tarde a constituir a base dos estudos da Psicologia da Forma (Gestaltpsychologie). Sua primeira constatação foi a divisão de duas espécies de "qualidades da forma": as sensíveis, próprias do objeto (o timbre), e as formais, próprias da concepção humana. É o agrupamento das primeiras de acordo com as últimas que forma o conjunto e possibilita a percepção do todo.