Segmentação e Análise
Na música pós-tonal discutida neste livro, a coerência é freqüentemente criada pelos relacionamentos entre conjuntos dentro de uma classe de conjuntos. É possível ouvir caminhos através da música conforme um ou mais conjuntos são transpostos e invertidos de maneiras intencionais, dirigidas. Freqüentemente, percebemos que não há apenas um único e melhor meio para ouvir nosso caminho através de uma peça; mais que isso, nossa audição freqüentemente necessita ser múltipla, conforme os diferentes caminhos se intersectam, divergem, ou correm paralelos uns aos outros. Para usar uma metáfora diferente, a música pós-tonal é geralmente como um tecido rico e variado, composto de muitos fios diferentes. Conforme tentamos compreender a música, é nossa tarefa desfiar os fios para inspeção, e então ver como eles se combinam para criar o tecido maior.
Uma das nossas principais tarefas analíticas, então, é encontrar os conjuntos principais e mostrar como eles estão transpostos e invertidos. Mas como saber quais conjuntos são os importantes? A resposta é que você não pode saber com antecedência. Você tem que entrar no mundo da peça – ouvindo, tocando, e cantando – até que você obtenha um senso de quais idéias musicais são fundamentais e recorrentes. No processo, você encontrar-se-á movendo-se em torno de um tipo familiar de círculo conceitual. Você não pode saber quais são as principais idéias até que você as veja recorrer; mas você não pode encontrar recorrências até que você saiba quais são as idéias principais. A única solução prática é bisbilhotar na peça, propondo e testando hipóteses conforme você prossegue. No processo, você estará considerando muitas segmentações diferentes da música, isto é, maneiras de esculpi-la em agrupamentos musicais cheios de sentido.
Quando você tiver identificado o que você pensa ser uma idéia musical significativa, então procure cuidadosamente, completamente, e imaginativamente por suas recorrências transpostas ou invertidas. Aqui estão alguns lugares para procurar (esta lista não é exaustiva!):
Em todas as suas segmentações musicais, esforce-se para obter um equilíbrio entre busca imaginativa e bom senso musical. Por um lado, não se restrinja aos agrupamentos óbvios (embora estes sejam um bom lugar para começar). Relações interessantes podem não estar aparentes na primeira, segunda, ou terceira vez, e você precisa ser exaustivo e persistente nas suas investigações. Por outro lado, você tem que ficar dentro dos limites do que pode ser significativamente ouvido. Você não pode pinçar notas de maneira aleatória, só porque elas formam um conjunto no qual você está interessado. Mais ainda, as notas que você agrupa devem estar associadas umas com as outras de alguma maneira musical. Elas devem compartilhar alguma qualidade distintiva (por exemplo, de proximidade, ou culminância, ou tessitura, ou intensidade, ou duração) que as agrupe juntas e as distinga das notas em torno delas. Se, após alguns repetidos esforços de boa fé para ouvir um certo agrupamento musical, você não puder torná-lo realmente palpável, então o abandone e vá para a próxima coisa. O objetivo é descrever a rede de relações musicais mais rica possível, para deixar nossas mentes e ouvidos musicais guiarem-se uns aos outros com os muitos caminhos agradáveis através desta música.
No processo, você poderá descobrir o quão difícil é encontrar explicações para cada nota numa peça ou mesmo numa curta passagem. Uma característica familiar desta música é sua resistência a explicações simples, genéricas. Em vez de tentar encontrar uma fonte única para toda a música, tente forjar redes significativas de relacionamentos, retirando fios particularmente notáveis do tecido musical, e seguindo uns poucos caminhos musicais interessantes. Este é um objetivo atingível e satisfatório para a análise musical e a audição musical.
[Cf. Straus, pp. 51-2]