Sugestões para Proceder a uma
Análise Musical
Utilizando a Teoria Pós-tonal e o PCN.
- familiarize-se com a notação numérica e com a operação módulo 12;
- familiarize-se com a interface do PCN; use um conjunto pequeno
(três ou quatro notas) e faça várias operações. Isto lhe permitirá
adquirir habilidades básicas tais como: entrar dados, limpar janelas,
decorar botões e códigos de operações, salvar e abrir documentos, etc.
- escolha uma peça curta ou um trecho de música e faça algumas
observações prévias, por exemplo, células que se repetem, motivos
recorrentes, contornos semelhantes, etc. A partir destas suposições,
levante suspeitas, por exemplo, se algo parece ter sido invertido,
transposto, retrogradado, etc. Tendo estas informações anotadas (faça
anotações sempre) entre no PCN para investigar se suas suposições
são confirmadas ou não. Seja imparcial, se suas suposições não se
confirmarem, não tente forçá-las.
- se você não encontrou o que procurava ou se suas suposições não se
confirmaram, é possível que o compositor esteja trabalhando com motivos de
intervalos e não de notas.Entre então uma quantidade significativa de
notas e use a operação Ci (classes de intervalos), abra a janela de
saída para ter uma visão mais ampla e procure por seqüências de
intervalos que possam fazer sentido, seja por serem recorrentes, seja por
não se repetirem. Não deixe de observar se há elisões, retrogradações,
rotações ou ampliação e contração de intervalos, pois tudo isto pode
ser observado com esta operação. Verifique também se eliminando notas
repetidas aparece algum conjunto ou série (use a operação ER
(exclusão de repetições)).
- Outra maneira de abordar um trecho de música sobre o qual você não tem
idéia alguma é começar um rastreamento de conjuntos ou, mais propriamente
fazer o que chamamos de segmentar a peça. Para isso, divida o trecho em
grupos de três notas e para cada grupo use sucessivamente a operação FN
(forma normal) e FP (forma prima). Se não encontrar recorrência de
conjuntos, segmente em grupos de quatro, cinco, seis notas e assim por
diante até encontrar algo. Atenção: não esqueça de verificar
previamente se o compositor está usando uma série dodecafônica, pois
nesse caso você ficará cansado de segmentar a peça até encontrar um
conjunto de doze notas diferentes. No caso de séries, não esqueça também
que algumas são construídas com conjuntos particulares (dois hexacordes
simétricos ou não, três tetracordes simétricos ou não, quatro tricordes
simétricos ou não). Em qualquer destes casos, não esqueça de usar a
operação MD (matriz dodecafônica) para auxilia-lo na investigação do
uso das formas prima (P), invertida (I), retrógrada (R) e retrógrada
invertida (RI).
- Se o trecho escolhido for melódico, não se restrinja a verificar os
conjuntos em seqüência; investigue também os pontos de inflexão ou os
pontos culminantes da melodia pois o compositor pode estar projetando algum
conjunto em larga escala.
- Se o trecho for polifônico, investigue tanto melódica quanto
harmonicamente, pois é possível que os conjuntos estejam verticalizados e
não horizontalizados; ou podem estar distribuídos em ambas as
disposições.
- Tendo encontrado algum conjunto recorrente, verifique que relações eles
mantém com a forma prima, isto é, veja a que intervalos ele foi transposto
ou invertido, ou se foi retrogradado ou rotacionado. Entre o conjunto e use Ti
(transposição ao intervalo i) e Ix (inversão em torno de x)
fazendo i e x = 0, 1, 2, 3 e assim por diante até encontrar
qual foi o intervalo de transposição ou inversão (não esqueça de anotar
estes resultados para comparar com os conjuntos na partitura).
- Depois de ter achado os conjuntos relevantes do trecho escolhido,
investigue suas características usando as operações Vi (vetor
intervalar), VI (vetor de índices), XS (eixo de simetria), Si
(simetria inversiva), e St (simetria transpositiva). Estes dados
permitem que você veja se o compositor está usando estas características
(ou não), e de que maneira essas características estão presentes na
sonoridade resultante do trecho.
- De resto, procure desenvolver uma estratégia sistemática de
investigação, mas não cristalize rotinas de modo a tentar enquadrar toda
e qualquer música analisada no que você pressupõe que ela deva ser.
- Finalizando, o PCN tem ainda outras operações que embora não
estejam diretamente relacionadas com a Teoria Pós-tonal, podem ser de
grande ajuda na análise.
Extraído (acrescido de modificações e ilustrações) de: Bordini,
Ricardo M. "O PCN: um breve comentário"; In A Música de Jamary Oliveira: Estudos Analíticos. Perrone, Conceição et alii. Porto Alegre: CPG-Música/UFRGS,
1994. Pp. 142-47.