UNIDADE 1A.

Elementos da Notação Musical.

Generalidades.

A notação musical tem uma longa história. Não tão longa quanto a da Música, mas ainda assim, suficiente para sofrer modificações substanciais ao longo de sua existência. Algumas dessas modificações serão vistas ao longo do curso, mas por enquanto, vamos nos fixar nos elementos básicos da notação musical moderna.

Os textos sobre a teoria da música nem sempre são concordantes e muitos países adotam práticas diferentes. O texto que se usará neste curso baseia-se principalmente na tradição anglo-americana e nas recomendações de associações internacionais de Notação Musical. Sempre que necessário far-se-á observações sobre diferentes abordagens.

Recentemente várias modificações para novos recursos e técnicas vocais e instrumentais ou de elementos da notação musical foram propostos. Por ora serão apresentados apenas os elementos básicos e relativamente tradicionais da notação musical, deixando para posterior estudo essas inovações.

A notação musical utiliza-se de vários símbolos ou sinais para representar basicamente duas características da música: os tons e as durações. Então, a notação musical nos informa simultaneamente qual ou quais tons devem ser cantados ou tocados e, por quanto tempo devem soar. Simples não? Pois é, as notas musicais recebem um nome que identifica o seu tom (som musical) e uma duração que é representada por figuras de duração (ou de valor). (Ver o comentário sobre o termo tom.)

Advertência! Essa primeira unidade pretende oferecer informações básicas sobre a maioria dos conceitos envolvidos na notação musical. Muitos tópicos ficarão incompletos ou suscitarão dúvidas, mas tudo será visto a seu tempo em outras unidades. Este material não foi feito para ler, foi feito para estudar! Bons estudos!


01 - O nome dos tons das notas musicais.

Da tradição da música grega herdou-se o costume de representar as notas por letras do alfabeto: A, B, C, D, E, F e G. Mais tarde já na Idade Média, as notas receberam nomes latinos retirados das primeiras sílabas de cada verso do Hino à São João Batista: Ut, Ré, Mi, Fá, Sol, Lá e Si. O Si não havia em nenhum verso e formou-se das iniciais das palavras Sancte Ioannes (São João em latim).

Posteriormente o Ut, difícil de pronunciar, foi substituído por Dó (primeira sílaba da palavra Dominus (Senhor, em latim). Alguns países como a França ainda usam o Ut para se referir ao Dó. Outros países continuam usando o sistema de letras do alfabeto como Estados Unidos, Inglaterra e Alemanha. Neste país o B representa o Si bemol e o H o Si natural (o termo bemol se refere a um acidente musical que será visto com mais detalhes posteriormente).

Exemplo 1: Nome dos tons das notas musicais.


02 - As Figuras de Duração.

A indicação de quanto tempo o tom de uma nota deve durar é feita por figuras de duração. Cada figura representa a duração sempre em proporções definidas umas em relação às outras. As durações estão diretamente relacionadas com o ritmo, que será visto com mais detalhes posteriormente.

A forma das figuras modificou-se várias vezes durante a história da notação. Os primeiros sinais chamados de Neumas foram gradualmente ficando mais complexos e tinham todos basicamente a mesma duração. A notação neumática deu lugar por volta do Século XIII à notação mensural, com um novo sistema de durações bastante complexo para detalhar aqui, mas pode-se mencionar que o nome das durações vem desse sistema (embora os nomes de algumas figuras modernas não correspondam aos nomes antigos, algumas não sejam mais usadas e outras novas fossem acrescentadas). A forma das figuras de duração foi modificada para a sua aparência moderna por volta do Século XVII.

Os nomes das figuras de duração são: breve, semibreve, mínima, semínima, colcheia, semicolcheia, fusa, semifusa e quartifusa (ou tremifusa). No Exemplo 2 a seguir vê-se os nomes e as formas das figuras de duração modernas. A breve e a tremifusa são raramente usadas e há figuras que duram ainda mais do que a breve tais como a longa e a máxima que não estão mostradas no Exemplo 2a. A notação moderna das durações denomina-se ortocrônica (ou proporcional) porque cada figura na sucessão mostrada no Exemplo 2a dura exatamente a metade da precedente. Na unidade 3 essa propriedade será estudada pormenorizadamente.

Exemplo 2a: Figuras de Duração.

A notação musical precisa indicar quanto tempo um determinado tom deve durar e também precisa indicar a duração dos "silêncios", ou seja, quanto tempo deve-se esperar para emitir algum tom. Para isso, usam-se as pausas. As pausas correspondentes às figuras de duração estão mostradas no Exemplo 2b a seguir.

Exemplo 2b: Pausas.

A proporção entre as figuras de duração - que é equivalente às suas respectivas pausas - está mostrada no Exemplo 2c.

Exemplo 2c: Proporções entre as figuras de duração.

A semibreve é tomada como a unidade. A mínima equivale à metade da duração da semibreve, portanto, para corresponder à duração da semibreve, são necessárias duas mínimas. A semínima equivale à metade da mínima e, portanto, para corresponder à duração da mínima são necessárias duas semínimas e, para corresponder à duração da semibreve são necessárias quatro semínimas e assim por diante. Aplicando esse raciocínio recursivamente, tem-se as quantidades relativas mostradas no Exemplo 2d.

Exemplo 2d: Quantidade relativa de durações.

Para ilustrar como utilizar as relações mostradas no Exemplo anterior, escolha uma figura em uma coluna e busque a interseção com a figura de uma linha e leia na intersecção o número que indica a quantidade de figuras necessárias para perfazer a mesma duração. Por exemplo: para saber quantas fusas equivalem a uma semínima, localize a coluna da fusa e siga-a até encontrar a linha da semínima; na interseção está o número 8, portanto, são necessárias oito fusas para corresponder à mesma duração de uma semínima.


03 - A pauta musical.

O suporte sobre o qual as notas (os tons com suas durações) são escritas chama-se pauta (ou pentagrama) musical. A pauta é composta por cinco linhas paralelas equidistantes (daí o termo pentagrama que significa: cinco linhas). Tanto as linhas quanto os espaços que elas delimitam são numerados de baixo para cima, portanto, há cinco linhas e quatro espaços como se pode ver no Exemplo 3 a seguir.

Exemplo 3: A pauta (ou pentagrama) musical.


04 - Linhas suplementares.

As linhas da pauta são insuficientes para escrever todas as notas que podem ser utilizadas na música. Para escrever notas que extrapolam as linhas da pauta usam-se linhas suplementares. As linhas suplementares podem ser superiores ou inferiores. As linhas suplementares superiores são escritas acima da pauta e são numeradas de baixo para cima, bem como os espaços suplementares superiores.

As linhas suplementares inferiores são escritas abaixo da pauta e são numeradas de cima para baixo, bem como os espaços suplementares inferiores. Observe que o primeiro espaço suplementar superior já é aquele delimitado pela quinta linha da pauta e a primeira linha suplementar superior. Similarmente, o primeira espaço suplementar inferior está entre a primeira linha da pauta e a primeira linha suplementar inferior. Ver o Exemplo 4 a seguir.

Exemplo 4: As linhas suplementares.


05 - Grave e Agudo.

Quanto à posição relativa das notas escritas na pauta diz-se que são mais agudas ou mais graves dependendo de onde estão escritas. Quanto mais grave for uma nota, mais abaixo na pauta ela é escrita e, contrariamente, quanto mais aguda, mais acima ela é escrita.

Para compreender melhor a relação entre grave e agudo, imagine uma tuba e uma flauta tocando. Os tons emitidos pela tuba serão mais graves do que os tons emitidos pela flauta e, contrariamente, os da flauta serão mais agudos que o da tuba. Observe na pauta do Exemplo 5a as relações entre grave e agudo.

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Exemplo 5a: Graves e agudos.

Quando se escreve as notas na pauta, pode-se escrevê-las na mesma linha ou espaço e neste caso elas terão o mesmo nome e serão iguais. Se estiverem escritas uma depois da outra sucessivamente (e não forem iguais), elas terão nomes diferentes e a que estiver mais abaixo na pauta será a mais grave e a outra mais aguda. Também ao escrever-se duas notas superpostas a que estiver na posição mais abaixo da pauta será mais grave enquanto a outra será mais aguda. Ver o Exemplo 5b a seguir.

Exemplo 5b: Relações entre graves e agudos.


06 - Claves.

Ao escrever-se as figuras de duração na pauta podemos saber sua duração relativa, pois elas mantêm relações de duração proporcionais: metade, dobro etc., mas não será possível saber quais nomes elas têm. Para saber o nome das notas escritas na pauta precisamos de uma clave (do latim clavis que significa: chave). É a clave que permite decodificar o nome das notas.

Há três claves diferentes: a clave de Sol, a clave de Fá e a clave de Dó. A forma atual das claves derivou de uma longa evolução passando por sucessivas transformações das claves usadas no cantochão e das letras góticas C (Dó), F (Fá) e G (Sol). Ver o Exemplo 6a.

Exemplo 6a: Evolução da forma das claves.

A clave de Sol escreve-se na segunda linha da pauta (antigamente usava-se também na primeira linha para escrever para um instrumento chamado violino francês). A clave de Fá escreve-se na quarta linha (antigamente na terceira linha também, mas hoje está em desuso). A clave de Dó escreve-se na terceira ou na quarta linha (antigamente também na primeira, segunda e quinta linhas; a clave de Dó na quinta linha produz os mesmos nomes que a clave de Fá na terceira linha então esta era preferida; as claves de Dó na primeira e segunda linhas estão em desuso hoje em dia).

O Exemplo 6b a seguir mostra a mesma nota Dó escrita em todas as claves com suas respectivas designações. Há também uma clave especial para instrumentos de percussão. Estas claves em geral são escritas em pautas de apenas uma ou duas linhas.

Exemplo 6b: As claves modernas.

Como se disse, todas as notas escritas no Exemplo 6 são iguais, tem o mesmo nome (Dó) e tem o mesmo tom, ou seja, soam absolutamente iguais. Observe que quanto mais grave for a voz ou instrumento, mais a clave vai sendo deslocada para a parte superior da pauta.

Alguns instrumentos necessitam usar mais de uma clave para acomodar sua escrita, por exemplo, o Violoncelo faz uso da clave de Fá na terceira linha para as notas mais graves, a clave de Dó na quarta linha para as notas intermediárias e a clave de Sol para as notas no extremo mais agudo.


07 - Partitura e partes.

O termo partitura refere-se a um documento escrito em notação musical que contém todos os instrumentos ou vozes que tocam ou cantam em uma determinada composição. Pode ser para um instrumento apenas ou para muitos instrumentos tocando juntos como numa orquestra com coro. Usa-se termo parte para indicar que cada instrumento ou voz presente em uma composição está separado da partitura e contém apenas a escrita para aquele determinado instrumento ou voz. Por exemplo, pode-se dizer: a parte das flautas de uma Sinfonia (para referir-se a um tipo de instrumento que toca em uma peça) ou a partitura de uma Sinfonia (para referir-se ao conjunto de instrumentos que participam de uma obra).


08 - Chaves, colchetes e sistemas.

Alguns instrumentos podem produzir muitas notas e necessitam de mais de uma pauta para indicá-las. Além disso, quando se faz necessário organizar diferentes agrupamentos de instrumentos usam-se chaves e colchetes. Para o agrupamento de vários instrumentos ou vozes que devem tocar juntos, utiliza-se o termo sistema.

As chaves são utilizadas para agrupar pautas de instrumentos iguais ou de um mesmo instrumento para o qual se escreve em duas (ou mais) pautas, em geral, instrumentos de teclado como o piano, o cravo, o órgão etc.; também a harpa usa duas pautas mesmo não sendo instrumento de teclado. Os colchetes são usados para agrupar instrumentos ou vozes diferentes, cada qual com sua clave ou para agrupar seções de uma partitura para orquestra. Em qualquer caso, sempre há uma linha simples unindo todas as pautas. Ver o Exemplo 7 a seguir.

Exemplo 7: Chaves, colchetes e sistemas.

No exemplo anterior usou-se a chave para agrupar as duas pautas que o piano utiliza, indicando que se trata de um único instrumento. Também se usa a chave para agrupar pautas destinadas a instrumentos iguais, por exemplo, duas flautas tocando juntas podem utilizar duas pautas unidas por uma chave, já que são instrumentos iguais. O colchete é usado para unir pautas de instrumentos diferentes (em geral com claves diferentes) como por exemplo, o quarteto de cordas que está ilustrado no exemplo anterior. A linha pontilhada mostra a abrangência do sistema, ou seja, aquelas quatro putas unidas por um colchete formam um sistema.


09 - Notas na pauta.

Ao escrever as notas na pauta faz-se necessário antes escolher uma clave, pois o nome das notas vai ser definido pela clave. As claves mais comuns em uso hoje em dia são as claves de Sol na segunda linha e a de Fá na quarta linha. A linha sobre a qual a clave está desenhada indica o nome da nota que fica sobre aquela linhas e as demais notas seguem ema ordem: Dó, Ré, Mi, Fá, Sol, Lá e Si. No Exemplo 8 pode-se ver as notas nas claves de Sol e Fá respectivamente. A sequência das notas é sempre alternando linhas e espaços sucessivamente. No exemplo todas as notas estão com a mesma duração equivalente a uma semibreve (na Unidade 3 estudar-se-á com mais profundidade as figuras de duração e, portanto, o ritmo).

Exemplo 8: Notas na pauta.

Assim, a clave de Sol que começa na segunda linha define que aquela linha conterá as notas com o nome da Clave, ou seja, as notas Sol. Seguindo a ordem, antes do Sol tem-se Dó, Ré, Mi e Fá e depois do Sol, tem-se o Lá e o Si. As notas na clave de Fá ou em qualquer outra clave seguem o mesmo princípio. Em suma, o nome da clave estabelece o nome da nota que fica na linha sobre a qual a clave está desenhada.


10 - Oitavas.

No Exemplo anterior, escrevemos o nome das notas relativas a uma determinada clave. Mas a música não usa apenas aquelas sete notas. Outras notas com os mesmos nomes podem ser escritas em regiões mais graves e também mais agudas. Quando se segue a sequência para além das sete, o nome dos tons das notas começa a se repetir e diz-se então que as notas estão uma oitava mais grave ou uma oitava mais aguda (ler a explicação na barra lateral direita). Ver o Exemplo 9a em seguida.

Exemplo 9a: Oitavas mais agudas.

O termo oitava refere-se a um intervalo (os intervalos serão estudados com mais profundidade na Unidade 2). Por ora, basta dizer que ao iniciar uma contagem a partir de uma determinada nota e seguir-se em ordem passando por todas as notas, quando se chega ao número oito as notas começarão a ter os mesmos nomes, mas estarão em regiões diferentes e, no Exemplo anterior, seus tons serão mais agudos. Mas as notas podem também ser escritas uma oitava mais grave como no Exemplo 9b a seguir.

Exemplo 9b: Oitavas mais graves.

Pode-se iniciar a contagem na direção ascendente ou na direção descendente como no exemplo recém apresentado. Nesse caso está-se colocando as notas uma oitava mais grave. Iniciar a contagem em qualquer nota e contar oito, tanto na direção ascendente quanto descendente sempre terminará na nota com o mesmo nome, porém uma oitava mais aguda ou mais grave. E como se verá mais adiante, pode-se escrever duas ou mais oitavas.


11 - Sinais e linhas de oitava e décima quinta.

Para evitar o uso excessivo de linhas suplementares ao escrever-se para instrumentos que tocam notas muito graves ou muito agudas, usa-se o sinal de oitava ou décima quinta (equivalente a duas oitavas mais agudas ou mais graves) em uma nota ou a linha de oitava ou de décima quinta para um grupo de notas.

Exemplo 10a: Sinais e linhas de oitava.

A décima quinta equivale a duas oitavas (e não décima sexta como pode parecer). Ver o Exemplo 10b.

Exemplo 10b: A décima quinta.

Há ainda a indicação de coll' 8va (ou coll' 8), termo italiano que significa "com a oitava" e serve para indicar que as notas escritas devem ser tocadas juntamente com uma oitava mais aguda ou mais grave, dependendo de onde a linha é colocada.

Exemplo 10c: coll' 8va.

Para evitar ambiguidades após usar-se sinais ou linhas de oitava ou décima quinta, usa-se a palavra loco que significa "no lugar", ou seja, tocar onde a nota está escrita.


12 - Mudança de clave e claves transpositoras.

Agora que se explicou o conceito de oitava, pode-se acrescentar alguns recursos para mudar de oitava diminuindo a quantidade de linhas suplementares ou mesmo o uso de linhas de oitava ou décima quinta. Se ao escrever na clave de Fá as notas começam a ficar muito agudas, pode-se mudar para a clave de Sol. Esta mudança e indicada colocando-se uma clave de Sol de tamanho um pouco menor e para voltar a clave original coloca-se novamente a clave de Fá em tamanho menor também. O mesmo pode ser feito com a clave de Sol; se as notas começam a ficar muito graves, pode-se inserir uma clave de Fá de tamanho menor e para voltar, recoloca-se a clave de Sol em tamanho menor também.

Exemplo 11a: Mudança de clave.

Alguns instrumentos como o violão e o contrabaixo, usam claves com um pequeno número oito escrito abaixo da clave; outros como o flautim, usam o número oito escrito acima da clave. Esse número oito escrito abaixo ou acima da clave de Sol ou de Fá significa que as notas escritas na pauta quando tocadas no instrumento soarão uma oitava abaixo ou acima do que está escrito. São chamados de instrumentos transpositores (ou transportadores), porque ao se tocar o que está escrito, o som produzido pelo instrumento soa em outra oitava. Isso facilita a escrita pois evita o uso excessivo de linhas suplementares ou de oitava. Se o número oito está escrito abaixo da clave a transposição é feita para uma oitava mais grave e se o número oito está escrito acima da clave a transposição é feita para uma oitava mais aguda.

Exemplo 11b: Claves transpositoras.


13 - A grande pauta.

No item sobre sistemas anteriormente exposto, viu-se que os instrumentos de teclado e a harpa necessitam de um sistema com duas pautas. Esse sistema é denominado de grande pauta, em inglês Great (ou Grand) Staff. Além de ser utilizada em geral quando se escreve para instrumentos de teclado e a harpa, ela também serve para outros propósitos como: escrever reduções harmônicas, escrita reduzida de partes etc. É constituída por duas pautas interligadas por uma chave e que permite uma continuidade entre a pauta inferior com a clave de Fá na quarta linha e a pauta superior com a clave de Sol da terceira linha. Ver o Exemplo 12 a seguir e Observe que a nota Dó fica no centro das duas pautas, como se houvesse uma clave de Dó invisível entre as duas.

Exemplo 12: A grande pauta.

Atenção! A nota Dó no centro das duas pautas não deve ser escrita isolada. Na clave de Fá essa nota deve ser escrita na primeira linha suplementar superior enquanto na clave de Sol deve ser escrita na primeira linha suplementar inferior.


14 - Registros e o Dó central.

Quando se fez referência ao conceito de oitava, disse-se que as notas que tinham o mesmo nome mas estavam escritas em outra região estavam oitavas mais agudas ou mais graves umas em relação às outras. Essas regiões são tecnicamente chamadas de registros. Assim, a cada repetição das sete notas seguindo sequencialmente teremos um registro diferente.

As indicações de registro variam muito conforme o país, por exemplo, o Dó da primeira linha suplementar inferior da clave de Sol pode ser indicado como c', c1, C3 ou C4. Esta nota, que fica no meio das claves do sistema da grande pauta e que fica também no centro do teclado do piano (e de teclados eletrônicos e outros teclados também como o cravo e o órgão), chama-se Dó central.

Há muita confusão sobre como indexar o Dó central. A recomendação da Associação Americana de Acústica e de revistas especializadas internacionais é de usar Dó4 como o Dó central e é assim que será indicado aqui. Ver no Exemplo 13 a extensão dos registros de oitavas.

Exemplo 13: Registros e o Dó central.


15 - Metro e Tempo.

Como a música só existe no tempo, a notação precisa "medir" o tempo. A palavra tempo em música tem várias acepções. Por ora basta dizer que se refere à duração das figuras das notas ou ao metro. O metro é um padrão recorrente ou uma determinada disposição de pulsações marcadas por ênfases mais fortes ou mais fracas que organizam o fluxo do tempo musical. Essas pulsações são também chamadas de tempos. Os padrões recorrentes podem apresentar ênfases de dois em dois pulsos (tempos), de três em três, de quatro em quatro e assim por diante. A métrica, portanto, indica se o compasso é binário, ternário ou quaternário etc. Os compassos podem ser constantes ou podem variar alternando-se em agrupamentos diferentes. Esses e outros termos relacionados à parte rítmica da música serão vistos com muito mais detalhes na Unidade 3.


16 - Compassos e fórmulas de compasso.

Os padrões de tempos estão intimamente relacionados com as fórmulas de compasso já que refletem a organização dos pulsos ou tempos numa unidade chamada de compasso. Os compassos são padrões completos em geral recorrentes de organização de pulsos, delimitados por uma barra de compasso (ver logo a seguir). A fórmula de compasso consiste de dois números colocados um acima do outro logo depois da clave e da armadura de clave (ver armaduras mais adiante). O número superior é comumente chamado de numerador e o número inferior de denominador, mas atenção, a fórmula de compasso não é uma fração, embora às vezes seja representada como tal. Na posição tradicional da fórmula de compasso o numerador ocupa a metade superior e o denominador a parte inferior da pauta. Na Unidade 3 este tópico será extensamente aprofundado.

Exemplo 14: Fórmulas de compasso.


17 - Barras de compasso.

Há quatro tipos de barras de compasso: simples, dupla, tracejada e final. A barra simples serve para separar as unidades métricas, os padrões de organização dos tempos. A barra dupla é usada para finalizar seções, mudanças de fórmula de compasso, de armaduras e de andamento. A barra tracejada (de uso mais recente) é empregada para deixar mais claros padrões mais complexos ou irregulares de organização métrica. A barra de final, como o nome sugere, é colocada unicamente no final de uma obra completa ou no final de cada movimento de uma obra com várias partes separadas.

Exemplo 15: Barras de compasso.


18 - Cabeças de nota, hastes e colchetes.

As notas, ou melhor, as figuras de duração, têm três partes distintas: a cabeça da nota, a haste os colchetes (ou bandeirolas). Quando a figura está completa, com cabeça, haste (se houver) e colchetes (se houver) ela representa uma duração fixa, porém relativa. Essas representações de durações recebem o nome de notação ortocrônica (do grego orto significando "correto" e cronos significando "tempo").

  • A cabeça é ovalada e inclinada e pode ser aberta (vazada ou branca) ou fechada (cheia ou preta);
  • A haste - nas figuras que a usam - é uma linha desenhada ao lado cabeça e quando vai para baixo é colocada ao lado esquerdo da cabeça e, quando vai para cima é colocada ao lado direito da cabeça;
  • O colchete (ou bandeirola) é uma linha curva colocada no final da haste e sempre para o lado direito seja na haste para cima seja na haste para baixo. A quantidade de colchetes que identificam algumas figuras de duração varia de um até cinco.
Exemplo 16a: Cabeças, hastes e colchetes.

A regra para escrever as hastes é simples: se a nota está acima da linha central da pauta (a terceira linha), a haste é escrita do lado esquerdo da cabeça e dirigida para baixo; se a nota está escrita abaixo da terceira linha, ela é escrita do lado direito da cabeça e dirigida para cima; quando estiver sobre a terceira linha, pode ir tanto para baixo quanto para cima, embora o mais das vezes seja encontrada com a haste para baixo.

Exemplo 16b: Direção das hastes e colchetes.

Há ainda outras regras para notar vozes diferentes em uma mesma pauta, para acordes com intervalos de segunda etc., mas não as veremos agora. Mais recentemente surgiram outras formas de cabeças de notas, em geral para instrumentos de percussão ou para indicar que se trata de uma parte rítmica, em que a cabeça da nota é substituída por um x ou um x dentro de uma cabeça de nota vazada. Há ainda cabeças em formato de losango e triângulo para indicar técnicas de execução especiais que não serão vistas agora.

Exemplo 16c: Notação rítmica.

As pausas em geral são colocadas no centro da pauta com exceção das pausas da breve (preenchendo o terceiro espaço), da semibreve (suspensa na quarta linha) e da mínima (apoiada na terceira linha) que são colocadas nas posições indicadas no Exemplo 16d a seguir. Observe a posição dos colchetes superiores no terceiro espaço para a colcheia e a semicolcheia, no quarto espaço para a fusa e a semifusa e no primeiro espaço suplementar superior para a quartifusa. Há várias circunstâncias em que essas disposições são alteradas, mas não serão vistas agora.

Exemplo 16d: Pausas na pauta.


19 - Travessões.

Para facilitar a leitura, as figuras que têm colchetes quando agrupadas em determinados padrões, perdem os colchetes que são substituídos por travessões na quantidade de colchetes correspondente à figura. Assim, para unir duas ou mais colcheias em sequência usa-se um travessão, para unir duas ou mais semicolcheias usa-se dois travessões e assim por diante. Agrupamentos com valores diferentes mantém o mesmo princípio. Alguns exemplos estão indicados no Exemplo 17 a seguir. Há várias regras para escrever os travessões, mas por enquanto mostra-se apenas alguns exemplos, já que os editores de partituras tanto comerciais como o Finale e o Sibelius quanto os gratuitos como o MuseScore e o LilyPond, fazem os ajustes automaticamente.

Exemplo 17: Travessões.


20 - Suspensões.

Por vezes é necessário interromper o fluxo musical seja para prolongar um tom, para esperar em silêncio ou mesmo para respirar. Para indicar que se deve esperar mais de dois compassos usa-se um traço largo sobre a terceira linha, iniciando e terminando com um traço curto horizontal, com um número acima indicando quantos compassos se deve contar sem emitir qualquer tom. São chamadas de pausas multicompassos (o traço largo pode ser inclinado com ou sem os traços curtos). Uma vírgula colocada acima da pauta (em geral no final de um compasso indica uma breve pausa, uma respiração curta. O sinal composto por duas linhas curtas inclinadas colocadas atravessando o quarto espaço (em geral no final de uma seção ou nota longa) indica uma interrupção não medida, onde uma pausa não seria adequada.

Exemplo 18a: Suspensões.

Outro sinal muito usado é a fermata, palavra italiana que significa "parada". Quando colocada sobre ou sob uma nota ou pausa e mesmo sobre uma barra de compasso ou suspensão, interrompe o fluxo do tempo, devendo-se prolongar o som ou o silêncio por tempo indeterminado, porém, sempre compatível com o contexto e dentro de limites razoáveis.

Exemplo 18b: Fermata.

O sinal de fermata é sempre colocado fora da pauta e em geral na parte superior e, em alguns casos, o sinal pode ser invertido e colocado na parte inferior da pauta.


21 - Ligaduras de prolongamento.

A ligadura de prolongamento é uma linha curva que conecta duas ou mais notas de mesmo tom, ou seja, estão escritas na mesma linha ou no mesmo espaço, que podem ter a mesma duração ou durações diferentes, de modo que a duração total do som equivale à duração das duas ou mais notas ligadas.

Quando as figuras de duração a serem ligadas tem hastes, a ligadura é colocada na parte das cabeças, portanto, se as hastes estão para cima a ligadura é colocada abaixo das cabeças e curvada para baixo. Se as hastes estão para baixo a ligadura é colocada acima das cabeças e curvada para cima. Ou seja, a curva da ligadura é sempre na direção contrária das hastes. Há exceções que serão vistas mais tarde, mas em geral as ligaduras de prolongamento são colocadas assim.

Exemplo 19a: Ligadura de prolongamento (notas com haste).

No caso de figuras de duração que não tem hastes segue-se o mesmo princípio como se as tivessem, Se estiverem na terceira linha, a ligadura será curvada para cima como se as hastes estivessem para baixo.

Exemplo 19b: Ligadura de prolongamento (notas sem haste).

As ligaduras também podem conectar a última nota de um compasso com a primeira de outro compasso contíguos por sobre a barra de compasso. As notas ligadas nessa condição podem ter a mesma duração ou durações diferentes.

Exemplo 19c: Ligaduras sobre a barra de compasso.


22 - Pontos de aumento.

O ponto de aumento simples deve ser colocado ao depois e ao lado da cabeça da nota para indicar que a duração da nota escrita deve ser prolongada por mais metade de sua duração. É a mesma coisa que ligar uma nota com outra de igual tom que tenha metade da sua duração. Os pontos são sempre colocados em espaços. Se a nota estiver escrita em um espaço o ponto é colocado no mesmo espaço (se tiver colchete, vai depois do colchete). Se a cabeça da nota estiver em uma linha o ponto é colocado no espaço imediatamente acima. No entanto, se duas notas estão escritas em uma linha e em um espaço adjacentes, se a nota mais grave estiver escrita em uma linha, terá seu ponto colocado no espaço imediatamente abaixo e a nota mais aguda no espaço imediatamente acima. Há outras exceções, mas serão vistas oportunamente. Seja como for, nunca haverá dois pontos no mesmo espaço e estarão sempre alinhados verticalmente se houver mais de uma nota pontuada simultânea. Ver o Exemplo 20a em seguida.

Exemplo 20a: Ponto de aumento simples.

O ponto de aumento duplo indica um prolongamento de 3/4 da duração da nota. O primeiro ponto prolonga 1/2 da duração da nota escrita e o segundo ponto aumenta mais a metade do primeiro ponto, ou seja, 1/4 da nota escrita. Raramente usado, o ponto de aumento triplo prolonga a duração da nota escrita em 7/8. O primeiro ponto prolonga 1/2 da duração da nota escrita, o segundo 1/4 (metade do primeiro ponto) e o terceiro 1/8 (metade do segundo ponto). As regras de colocação dos pontos são as mesmas do ponto simples.

Exemplo 20b: Ponto de aumento duplo e triplo.

Os pontos podem ser usados com pausas com a mesma função. O ponto ou os pontos com pausas sempre são colocados no terceiro espaço. Também se pode combinar pontos com ligaduras.

Exemplo 20c: Pontos com pausas e combinações com ligaduras.

Em geral há várias possibilidades diferentes de escrever a mesma coisa seja com ligaduras ou com pontos. De modo geral, prefere-se pontos quando possível. Quando mais de uma possibilidade de escrita está disponível, escolha aquela que tenha melhor clareza, em geral, aquela que permite ver onde estão os tempos do compasso. Esta é uma sugestão que deve ser seguida sempre, não só com relação a pontos e ligaduras, mas com muitos outros elementos da notação musical também.


23 - Compassos simples e compostos.

As fórmulas de compasso tem propriedades diferentes dependendo de se o compasso é simples ou composto. Apenas para dar uma ideia geral desse tópico que será tratado com muito mais amplitude na Unidade 3, mostra-se no Exemplo 21 as seguintes propriedades: nos compassos simples o numerador (igual a 2, 3 e 4) indica a quantidade de tempos em cada compasso; o denominador indica qual figura de duração representa cada tempo. Nos compassos compostos o numerador (igual a 6, 9 e 12) indica a quantidade de subdivisões do tempo; o denominador indica qual figura representa cada subunidade de tempo. Atenção! Nos compassos compostos, cada unidade de tempo é dividida em três porque a figura que preenche um tempo é sempre pontuada, porém, cada nova subdivisão da subunidade de tempo é feita em duas partes. Há outros tipos de métrica e de compassos que serão vistos depois.

Exemplo 21: Compassos simples e compostos.

Há uma equivalência entre compassos simples e compostos. O compasso binário simples é equivalente ao compasso binário composto. Ambos são binários, porém, no binário simples a figura indicada pelo denominador representa cada tempo enquanto que no composto o denominador indica a figura que representa a subunidade de tempo. Para saber quem são os compassos equivalentes é só multiplicar o numerador por 3, assim: 2 x 3 = 6 (binário simples e binário composto); 3 x 3 = 9 (ternário simples e ternário composto); 4 x 2 = 12 (quaternário simples e quaternário coposto). Atenção! A razão pela qual se multiplica por três é que nos compassos simples cada tempo é dividido em duas partes e nos compassos compostos cada tempo é subdividido em três partes.


24 - Intervalos.

O conceito de intervalo é simples: é a distância em semitons entre duas notas. A Unidade 2 vai abordar esse tópico com muito mais profundidade. Por ora, basta saber que o menor intervalo que se usa na música ocidental de tradição escrita europeia é justamente o semitom ou meio tom. A soma de dois semitons perfaz um tom inteiro. Atenção: não confundir intervalo de tom com o nome do som de uma nota.


25 - Escala natural.

Até aqui, sempre que se mencionou o nome dos tons das notas, fez-se referência ao que se denomina escala natural. Uma escala (do latim escada) é uma sucessão de tons em uma determinada ordem. A ordem Dó, Ré, Mi, Fá, Sol, Lá e Si configura uma escala natural. Equivale às teclas brancas do teclado do piano (ver o Exemplo 22 logo a seguir). O padrão mostrado no Exemplo 20 se repete a cada oitava mais aguda ou mais grave cobrindo toda a extensão das notas do piano que tem 7 oitavas (mais três notas adicionais na parte mais grave do instrumento totalizando 88 teclas). A partir de um Dó qualquer, vê-se sempre duas teclas pretas e depois do Fá três teclas pretas.

Exemplo 22: Escala natural e o teclado.

Observe um detalhe muito importante: entre as notas Mi e Fá e Si e Dó não há uma tecla preta como há entre as notas Dó e Ré, Ré e Mi, Fá e Sol, Sol e Lá e, Lá e Si. Entre as notas Mi e Fá e entre Si e Dó existe naturalmente um intervalo de semitom e, por essa razão, não há teclas pretas entre essas notas. O intervalo de semitom está marcado no Exemplo 22 com um sinal em forma de cunha. Entre uma tecla branca e uma preta ou entre uma preta e uma branca também há um intervalo de semitom. Assim, do Dó para o Ré tem-se um semitom entre a tecla do Dó e a tecla preta que está entre o Dó e o Ré e mais um semitom entre aquela tecla preta e a tecla do Ré. O mesmo acontece entre as notas Ré e Mi, Fá e Sol, Sol e Lá e, Lá e Si.

Já se viu que a soma de dois semitons perfaz um tom inteiro. Os tons inteiros estão marcados no Exemplo 22 como um colchete deitado. Resumindo, na escala natural, há um tom entre o Dó e o Ré, um tom entre o Ré e o Mi, um semitom entre o Mi e o Fá, um tom entre o Fá e o Sol, um tom entre o Sol e o Lá, um tom entre o Lá e o Si e, um semitom entre o Si é o Dó uma oitava acima do inicial. Esse padrão se repete a cada oitava tanto mais aguda quanto mais grave. Atenção: não confundir tom no sentido de som de uma nota com tom como intervalo de dois semitons!

Então, o que são aquelas teclas pretas? São notas alteradas por acidentes.


26 - Acidentes.

Os acidentes são sinais colocados sempre antes das notas para indicar que o seu tom deve ser alterado por um ou dois semitons mais graves ou mais agudos e, um sinal adicional para cancelar as alterações e fazer a nota alterada voltar ao seu estado natural. O Exemplo 23 a seguir mostra os sinais dos acidentes e seus nomes.

Exemplo 23a: Acidentes.

A partir de qualquer nota natural usa-se o sinal de:

  • bemol para fazer a nota ficar um semitom mais grave;
  • dobrado bemol para fazer a nota ficar dois semitons (ou um tom) mais grave;
  • sustenido para fazer a nota ficar um semitom mais agudo
  • dobrado sustenido para fazer a nota ficar dois semitons (ou um tom) mais aguda.
Exemplo 23b: Alterações a partir de uma nota natural.

A partir de qualquer nota com bemol usa-se o sinal de:

  • dobrado bemol para deixar a nota ficar um semitom ainda mais grave;
  • bequadro para cancelar o bemol e retornar a nota ao seu estado natural (um semitom mais aguda);

A partir de qualquer nota com duplo bemol usa-se o sinal de:

  • bemol para fazer a nota ficar um semitom mais aguda;
  • bequadro para cancelar o duplo bemol e retornar a nota ao seu estado natural (dois semitons ou um tom mais aguda);

A partir de qualquer nota com sustenido usa-se o sinal de:

  • dobrado sustenido para fazer a nota ficar um semitom mais aguda;
  • bequadro para cancelar o sustenido e retornar a nota ao seu estado natural (um semitom mais grave);

A partir de qualquer nota com duplo sustenido usa-se o sinal de:

  • sustenido para fazer a nota ficar um semitom mais grave;
  • bequadro para cancelar o duplo sustenido e retornar a nota ao seu estado natural (dois semitons ou um tom mais grave).

Atenção! O bequadro cancela qualquer acidente, assim, ao cancelar um bemol retorna a nota para o seu estado inicial e ao cancelar um dobrado bemol também retorna a nota ao seu estado inicial. O mesmo ocorre ao cancelar sustenidos e dobrados sustenidos, ou seja, em ambos os casos, as notas retornam ao seu estado inicial. Como fazer para cancelar apenas um dos dois bemóis do dobrado bemol ou apenas um sustenido dos dois sustenidos do dobrado sustenido? No caso do dobrado bemol cancela-se colocando apenas um bemol e no caso do dobrado sustenido apenas um sustenido. O bemol que é uma alteração usada para tornar uma nota natural mais grave, quando cancela um dobrado bemol, age no sentido oposto, retornando a nota para o bemol, portanto, tornado a nota mais aguda e não mais grave. Com o sustenido ocorre o mesmo: ao cancelar um dobrado sustenido, o sustenido torna a nota um semitom mais grave. Ver o vídeo explicativo.

Até recentemente, para cancelar um dobrado bemol ou um dobrado sustenido, usava-se um bequadro precedendo um bemol ou um sustenido, mas atualmente basta colocar um bemol ou um sustenido para cancelar um dobrado bemol ou dobrado sustenido.

Mais recentemente criaram-se sinais para intervalos menores que o semitom, os quartos de tom. Há vários sistemas de notação para quartos de tom ainda em desenvolvimento para adequar num padrão as práticas de várias culturas. Para saber mais sobre isso veja a página do Standard Music Font Layout (SMuFL). Ver o Exemplo 21c para uma visão geral de um dos sistemas (Gould). Observe que há dois quartos de tom em cada semitom, portanto, quatro quartos de tom em um tom inteiro.

Exemplo 23c: Quartos de tom.

27 - Colocação dos acidentes e acidentes de advertência.

A alteração colocada antes de uma nota só vale para aquela nota, naquele compasso e para todas as outras notas iguais subsequentes naquela mesma linha ou espaço - não vale para outras oitavas. Se uma nota for alterada em um compasso e estiver ligada prolongando-se para o compasso seguinte, a alteração é mantida. Se a nota for rearticulada na mesma linha ou espaço depois de vir ligada, a alteração não se aplica mais e nova alteração deve ser colocada. Para evitar dúvida se uma determinada nota está ou não alterada, usa-se a alteração de advertência que pode ser qualquer acidente colocado entre parênteses.

Exemplo 25: Colocação dos acidentes.

28 - Enarmônicos.

O termo enarmônico se refere ao fenômeno musical em que duas notas com nomes diferentes compartilham o mesmo tom, ou seja, o som das duas é igual embora seus nomes sejam diferentes. Em decorrência desse fato, as notas podem ter o mesmo tom embora sejam denominadas diferentemente. No Exemplo 24 estão mostradas as possibilidades.

Exemplo 26: Enarmônicos.

29 - Semitom diatônico e cromático.

Por causa da enarmonia, pode-se denominar o intervalo de semitom de duas maneiras diferentes: pode-se dizer: Dó e Ré bemol ou, Dó e Dó sustenido. O som do intervalo será o mesmo, porém, o nome das notas envolvidas é diferente. Ao semitom Dó - Ré bemol dá-se o nome de semitom diatônico e ao semitom Dó - Dó sustenido dá-se o nome de semitom cromático. As palavras diatônico e cromático e também a palavra enarmônico vista anteriormente - têm origem na música grega (ver comentário ao lado).


30 - Armadura de clave.

A armadura é um agrupamento ordenado de acidentes colocados no início das pautas logo após a clave e antes da fórmula de compasso. Diferente dos acidentes colocados no decorrer da música que afetam apenas as notas no compasso onde estão colocados, os acidentes da armudura alteram todas as notas em todos os compassos e em todas as oitavas. Assim, se houver um Fá sustenido na armadura, todos os Fás em todas as oitavas e em todos os compassos serão Fás sustenidos. Se houver necessidade de alterá-los, as alterações terão efeito apenas localmente. As armaduras seguem uma lógica que está associadda com a formação das escalas, que serão tratadas detalhadamente na Unidade 4.O Exemplo 27 mostra a posição onde se deve inserir a armadura de clave. No exemplo, todas as notas Fá e Dó devem ser entoadas com sustenidos porque a armadura indica isso; o Fá sustenido na armadura efetua essa alteração em todas as notas em todas as oitavas e em todos os compassos. O mesmo se dá com a indicação de Dó sustenido na armadura, que atua igualmente sobre todas as notas Dó. As armaduras evitam a escrita repetitiva de acidentes tornando a notação mais legível.

Exemplo 27: Armadura de clave.

Fim da Unidade 1A.

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