Relatório da Turma de Composição VII de 2004.
Introdução
A turma de Composição VII de 2004 pretende continuar o trabalho iniciado em Composição VI em 2003. O tópico escolhido foi: Princípios da Teoria da Gestalt Aplicados à Composição Musical.
Uma pesquisa preliminar serviu de base para direcionar os trabalhos de composição.
Algum material foi previamente traduzido para dar início às atividades. Este material pode ser consultado aqui.
Alguns vínculos (links) referentes ao tópico que foram usados pelos alunos podem ser vistos aqui.
Alguns comentários e ilustraçaões referentes à Percepção Visual da Forma foram extraídos do livro de João Gomes Filho: Gestalt do Objeto, Sistema de Leitura Visual da Forma, 5a. ed, São Paulo: Escrituras, 2003.
O procedimento para cada tarefa será:
- Definição dos princípios (ou leis) da Gestalt;
- Discussão sobre as possíveis relações e aplicações dos princípios na música;
- Realização de exercícios baseados nas discuções;
- Apresentação dos exercícios em partitura e arquivo sonoro;
- Comentários dos alunos sobre os exercícios.
Os alunos participantes estão nomeados abaixo e seus exercícios comentados poderão ser visitados seguindo os vínculos.
- Fredson da Rocha Caitano
- Gilberto Monte Lima
- Hermilo Pinheiro Santana
- Ivã Luis Souza Silva
- Luciano Lemos Pimentel
- Rodrigo Garcia
- Sebastião Nicolau dos Santos
- Ulisses José Castro Oliveira
Princípios da Gestalt
Primeira Tarefa:
Segregação (desigualdade de estimulação) / Unificação (igualdade de estimulação): para haver formação de unidades é necessário que haja descontinuidade de estimulação (contraste); se a estimulação é homogênea (sem contraste) nenhuma forma será percebida.
(Considere o exemplo visual abaixo.)
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| máximo contraste | | médio contraste | | mínimo contraste |
Discussão: Como podemos implementar estes conceitos musicalmente?
- Sugestões: As formas visuais acima sugerem um plano de fundo sobre o qual há um elemento contrastante; o plano de fundo gradativamente torna-se semelhante ao elemento em primeiro plano. Isto sugere um processo de metamorfose dos elementos do plano de fundo. Musicalmente teríamos: os motivos que formam o plano de fundo (contrastantes com os motivos do plano principal) devem ser transformados gradativamente até tornarem-se muito semelhantes aos do plano principal. O contrário também pode ser realizado: motivos do plano principal transformam-se para assemelharen-se aos do plano de fundo.
Entretanto, em música as coisas não são bem assim. Podemos obter o mesmo efeito usando apenas uma nota repetida e realçamos algumas notas apenas com a dinâmica, acentuando de forma cada vez mais intensa algumas notas (as quais parecerão segregadas da base constante).
Podemos também usar outros parâmetros musicais (ou do som) para obter o mesmo efeito, por exemplo, mantemos o padrão de nota repetida e alteramos o registro de alguma snotas gradativamente.
Segunda Tarefa:
Fechamento: tendência para organizar a unidade em todos fechados segregando a superfície do resto do campo. Unir intervalos e etabelecer ligações.
(Considere o exemplo visual abaixo.)
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| círculo | | quadrado | | cruz (vazada) |
Discussão: Como podemos implementar estes conceitos musicalmente?
- Sugestões: As formas visuais acima sugerem formas incompletas mas que são facilmente identificáveis (princípio do Fechamento). Musicalmente podemos imaginar, por exemplo, um motivo em que notas atrativas não fossem resolvidas permitindo assim que o ouvinte as ouça "virtualmente". Talvez seja necessário apresentar primeiro o motivo ocmpleto e depois submete-lo a diferentes modificações para examinar sua funcionalidade.
Podemos também usar uma progressão harmônica (ou um gesto) que sugira uma resolução e a resolução é substituída, por exemplo, por uma pausa. A tendência é de ouvirmos a resolução esperada.
Ou ainda, podemos usar um eixo de nota que nunca é ouvida, com as notas simétricas aproximando-se e afastando-se do eixo "virtual".
Uma outra solução seria apresentar, por exemplo, uma melodia e em reiterações sucessivas, apresentar somente partes entrecortadas por pausas (provavelmente curtas) e testar se o ouvido completa o que falta. Poder-se-ia pesquisar se há um limite de interrupção mínimo ou máximo para que o processo seja efetuado.
Terceira Tarefa:
Boa continuidade: unidades lineares tendem a se prolongar na mesma direção e com o mesmo movimento; a reta é mais estável que a curva mas ambas seguem seus rumos naturais.
(Considere o exemplo visual abaixo.)
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| boa continuidade (b é a continuação de a) | | quebra de continuidade (b não é a continuação de a | | boa continuidade relativa (b ou c podem ser a continuação de a) |
Discussão: Como podemos implementar estes conceitos musicalmente?
- Sugestões: O conceito pode ser aplicado em pequena escala na configuração (contorno) de frases melódicas. As frases melódicas em geral tem uma curvatura, dirigem-se para um ponto culminante (agudo ou grave) e retornam a uma posição igual, mais acima ou mais abaixo do ponto inicial.
Em grande escala, o conceito pode ser aplicado na configuração de seções ou mesmo da forma geral de uma peça. As transições parecem ter um papel importante aí, pois a passagem de uma frase para outra ou de uma seção para outra pode ser realizada basicamente de duas maneiras, suave ou imperceptivelmente (boa continuidade, metamorfose) ou de maneira abrupta (sem boa continuidade, contraste).
Quarta Tarefa:
Proximidade: Elementos próximos tendem a ser vistos juntos, como unidades.
(Considere o exemplo visual abaixo.)
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| proximidade: ab e cd (agrupamentos naturais) | | | | proximidade: três colunas em pares |
Discussão: Como podemos implementar estes conceitos musicalmente?
- Sugestões: Podemos juntar notas (ou sons), de pelo menos três maneiras: 1) próximas em registro, 2) próximas em durações (ritmo), e 3) próximas espacialmente.
Notas separadas por registro tendem a ser ouvidas saparadas (exceto talvez a oitava), portanto, notas agrupadas por registro (com intervalos não muito grandes) formarão unidades; notas agrupadas ritmicamente, deverão ser percebidas como unidades; notas localizadas em pontos próximos no espaço também deverão ser percebidas como unidades.
Quinta Tarefa:
Semelhança: Elementos com forma ou cor semelhantes tendem a ser vistos como agrupamentos, como unidades.
(Considere o exemplo visual abaixo.)
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| semelhança: ab e cd (agrupamentos naturais) | | | | semelhança: três colunas em pares |
Discussão: Como podemos implementar estes conceitos musicalmente?
- Sugestões: Este conceito pode operar em pelo menos dois níveis: 1) notas (sons), motivos, frases repetidas ou reiteradas serão agrupadas com ounidades, e 2) notas (sons), motivos frases emitidos pelo mesmo timbre serão também percebidos como unidades (mesmo que os materiais sejam diferentes).
Sexta Tarefa:
Semelhança/Proximidade: A semelhança é fator mais forte de organização do que a proximidade. A simples proximidade não basta para explicar o agrupamento de elementos. É necessário que eles tenham qualidades em comum.
(Considere o exemplo visual abaixo.)
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| apesar da proximidade não existe unidade | | semelhança/proximidade: reforço mútuo (filas de pontos maiores e menores) |
Discussão: Como podemos implementar estes conceitos musicalmente?
- Sugestões: A primeira figura dá a idéia de que, por exemplo, dois motivos contrastantes mesmo estando próximos um do outro não constituem unidade. A segunda figura sugere que mesmo motivos contrastantes se forem tocados pelo mesmo timbre, podem consituir uma unidade.
Sétima Tarefa:
Pregnância da Forma ou Força Estrutural: abrange todos os outros.
(Considere as leis básicas da pregnância da forma abaixo.)
- Qualquer padrão de estímulo tende a ser visto de tal modo que a estrutura resultante é tão simples quanto o permitam as condições dadas
- As forças de organização da forma tendem a se dirigir tanto quanto o permitam as condições dadas no sentido da harmonia e do equilíbrio visual
Discussão: Como podemos implementar estes conceitos musicalmente?
- Sugestões: Aplique tudo que foi visto até aqui levando em conta estes últimos leis. Experimente, invente, componha!